Fonte: Folha de São Paulo (04/10/2012)
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Karime Xavier/Folhapress |
Por 20 minutos, o coração do advogado e triatleta Glauco Reis, 39,
parou. Ele recebeu massagens cardíacas, mas só voltou a ter batimentos
após um choque de desfibrilador automático. Ao acordar, porém, tinha 80% de chances de sofrer lesões neurológicas permanentes em razão da falta de oxigênio no cérebro. Foi submetido, então, a um tratamento ainda pouco difundido no país, a
hipotermia terapêutica, que consiste em reduzir em 5 graus Celsius a
temperatura do paciente. A terapia, que já é usada em instituições como o InCor (Instituto do
Coração), HCor (Hospital do Coração) e hospital Albert Einstein, passa a
fazer parte das novas diretrizes brasileiras sobre os cuidados
pós-ressuscitação cardiorrespiratória, que serão publicadas no próximo
mês. "A hipotermia já faz parte das boas práticas médicas. Não adotá-la é
privar o paciente de um tratamento que vai reduzir muito as chances de
ele ficar com sequelas neurológicas", diz Sérgio Timerman, cardiologista
do InCor.
Levado ao InCor pelo Samu, Reis teve o corpo resfriado com soro gelado na veia e usou manta e roupas térmicas durante 24 horas. Um termômetro no esôfago monitorou a temperatura para que ela não caísse
abaixo dos 30 graus Celsius. Todo o tratamento foi pelo SUS. Estudos mostram que, após uma parada cardíaca, de 60% a 90% dos
pacientes morrem. Dos que sobrevivem, até 80% podem ficar com sequelas.
Com o uso da hipotermia, que aparentemente coloca o corpo num estado de
"espera" e minimiza danos, as chances de sobrevida sem sequelas são de
75%.